Advertência inicial: quem não assistiu ainda, melhor não ler esta crítica.
Fui convidada para uma sessão de discussão do filme de Lars von Trier em cartaz no cine UFBA. Fomos nós três, duas Christinas e uma Cristiana (apelidas por mim de "as crises") assistir ao Anti-Crist... Só isso já daria o que falar... Resolvi preparar por escrito minha percepção e interpretação da polêmica película. Primeiro de tudo tem a fotografia, lindíssima. Embora os recursos não tenham em si nada de novo, a combinação de slowmotion, preto e branco com technicolor, imagens humanas embutidas em quadros de paisagens da natureza, sonoplastia de terror (lela e outros detalhes, como a mata, lembra a Bruxa de Blair) e música clássica... enfim, a mistura de hiperrealismo (cenas de nú) com o onirismo, tudo isso, torna a obra instigante e misteriosa pois, como diz uma das Crises: "produz muita informação". Como não desejo me alongar muito na questão que desejo postar, vou direto ao ponto que, talvez, não seja tão óbvio para a maioria. Pois bem, por se tratar de uma obra artística (ou com pretensão de) e não de mera peça comercial, convém tratá-la como produção inconsciente. O desejo nestas circunstâncias fica mais fácil de ser percebido, como na leitura das frases longas e rebuscadas, pegando-se um atalho. Ou seja, o desejo se realiza no final. E qual é o final? O homem mata a mulher. Não uma mulher qualquer, mas a mãe malvada, louca, insaciável e que desatenta de quem deveria ser seu maior amor - o filho, calça os sapatos erradamente e lhe provoca uma "deformidade". Culpada, sempre culpada, o autor-diretor deve justificar de todas as formas a consumação do ato final e rechear o filme-sonho de pistas falsas em que o observador-testemunha se perde para nunca desconfiar do seu intento. Se existe uma verdade, ela se encontra no alto da pirâmide do medo, que é medo de si mesmo, e do ato do genocídio, que seria um matricídio, em verdade. Para não matar, o deprimido se destrói, e esse processo de dor, medo e desespero, de fato, nunca vem só... mas não precisa terminar em atos fisicamente violentos. Ao dividir conosco a beleza e a feiura do seu gozo-sofrimento, o autor se expõe sem o risco de ser julgado (ou de ser julgado pelo verdadeiro "crime")... e de quebra ainda ganha muito dinheiro e fama. A arte permite esse milagre. E a indústria cinematográfica permite outro milagre... o da multiplicação dos pães (para o padeiro, é claro).
Fui convidada para uma sessão de discussão do filme de Lars von Trier em cartaz no cine UFBA. Fomos nós três, duas Christinas e uma Cristiana (apelidas por mim de "as crises") assistir ao Anti-Crist... Só isso já daria o que falar... Resolvi preparar por escrito minha percepção e interpretação da polêmica película. Primeiro de tudo tem a fotografia, lindíssima. Embora os recursos não tenham em si nada de novo, a combinação de slowmotion, preto e branco com technicolor, imagens humanas embutidas em quadros de paisagens da natureza, sonoplastia de terror (lela e outros detalhes, como a mata, lembra a Bruxa de Blair) e música clássica... enfim, a mistura de hiperrealismo (cenas de nú) com o onirismo, tudo isso, torna a obra instigante e misteriosa pois, como diz uma das Crises: "produz muita informação". Como não desejo me alongar muito na questão que desejo postar, vou direto ao ponto que, talvez, não seja tão óbvio para a maioria. Pois bem, por se tratar de uma obra artística (ou com pretensão de) e não de mera peça comercial, convém tratá-la como produção inconsciente. O desejo nestas circunstâncias fica mais fácil de ser percebido, como na leitura das frases longas e rebuscadas, pegando-se um atalho. Ou seja, o desejo se realiza no final. E qual é o final? O homem mata a mulher. Não uma mulher qualquer, mas a mãe malvada, louca, insaciável e que desatenta de quem deveria ser seu maior amor - o filho, calça os sapatos erradamente e lhe provoca uma "deformidade". Culpada, sempre culpada, o autor-diretor deve justificar de todas as formas a consumação do ato final e rechear o filme-sonho de pistas falsas em que o observador-testemunha se perde para nunca desconfiar do seu intento. Se existe uma verdade, ela se encontra no alto da pirâmide do medo, que é medo de si mesmo, e do ato do genocídio, que seria um matricídio, em verdade. Para não matar, o deprimido se destrói, e esse processo de dor, medo e desespero, de fato, nunca vem só... mas não precisa terminar em atos fisicamente violentos. Ao dividir conosco a beleza e a feiura do seu gozo-sofrimento, o autor se expõe sem o risco de ser julgado (ou de ser julgado pelo verdadeiro "crime")... e de quebra ainda ganha muito dinheiro e fama. A arte permite esse milagre. E a indústria cinematográfica permite outro milagre... o da multiplicação dos pães (para o padeiro, é claro).