Meses de nada e eis um ovo.
Toda forma de conhecer é um sentir. A percepção aos estímulos se manifesta através de um sentir da mesma forma como a percepção da reação nossa aos estímulos, o que se chama senti-mento. O sentimento básico diante do mundo é a indiferença. De início existe apenas o ente absoluto que é presença e plenitude. Mas, de repente, uma outra presença – ente se impõe. Esta presença é a dor. Ela muda a situação e impõe ao ser que era antes plenitude absoluta a queda no desespero. O ente age cegamente. Excita-se de todas as formas, e de pronto, tudo cessa. De novo a paz. Esse ciclo se instala de tal forma que a memória já “espera” o des-equilíbrio que logo vai vir. Uma coisa que se inter-põe entre aquele estado inicial pleno e o estado de agora, criando uma diferença. Entre a plenitude e a dor existe alguma coisa. Que coisa é essa? Existe uma terceira coisa: um enigma. A terceira coisa é um enigma. Agora sabemos ser esta coisa uma distância, uma dimensão que separa um ente de outro, que se interpõe entre os entes, que não é nem um nem outro, e que chamamos vazio. O vazio é o terceiro ente. Mas o primeiro ente, que era plenitude, ainda não sabia disso antes do ciclo se iniciar. Só existia para ele o passado (bem-estar) e o presente (dor). Quando a dor se instala ela impera absoluta. Nada mais existe, nem o passado. A dor é um presente absoluto. Apenas quando cessa esse estado, e se retorna a um estado semelhante ao primeiro, é que este primeiro, enquanto oposto ao segundo, será percebido enquanto tal. A questão de Heideger é que o nada é a origem da negação e não o contrário. Mas, o fato do nada estar “na” origem não significa que ele seja “a” origem. Que a negação tenha vindo dele. Não. A origem do "não" está no próprio ente que se desdobra em ausência re-presentada. Será mesmo?
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