É um crime que tem resistido às mais variadas formas de repressão. Porque isso? Vamos ilustrar com um simples caso. Eu esperava ser atendida em certa lanchonete e ouvi a frase, em tom jocoso, de um atendente para outro, sobre um terceiro também presente na cena: “Ele pegou uma menina de 12 anos...” Como a situação era inequívoca e eu me indignava, falei em voz alta: “Pedofilia é crime”. Então um dos rapazes, ainda em tom de brincadeira, retorquiu: “Crime é não pegar...”.
Não falarei da minha reação de quase violência verbal, mas das reflexões que este caso me suscitou e que desejo passar adiante. O abuso sexual de menores é uma praga que ronda os PSFs e demais serviços de saúde de tal forma que os conselhos tutelares não têm dado conta. Isto sem falar nos casos encobertos ou socialmente aceitos de forma “naturalizada” como acontece principalmente com relação ao abuso de meninas muito pobres, que exibam comportamento sedutor, ou não, e (ou) gozem mais liberdade, consentida ou não pelos pais. O que se esconde por detrás da pedofilia, além dos problemas psíquicos pouco abordados como a impotência, a imaturidade sexual, o machismo e a drogadição? Ou, mais precisamente, o que se esconde por trás desta tolerância sexual demonstrada pela nossa comunidade masculina (e também feminina)? Uma grande covardia e baixa masculinidade, com certeza. Mas também uma coisificação do outro humano. Covardia porque se busca seduzir, assediar, alguém que não tem capacidade de julgar o outro como parceiro sexual, não tem capacidade para escolher, e que é irresponsável perante a lei e a sociedade (em menor o assédio sexual é sempre considerado violento e igual a estupro, não importando a reação da criança, se houve consentimento ou não). É covardia justificada na maioria das vezes de forma hipócrita ou cínica (“quem quiser que segure suas filhas” ou “ela queria” ou “ela era safada”, etc). É irresponsabilidade porque o agressor não pensa nas conseqüências deletérias daquele ato para o outro, mas apenas em seu prazer egoísta, no seu gozo estéril e perverso. Não pensa nunca no sofrimento que pode causar a uma menina porque... no fundo... ele odeia as meninas, e seu prazer é mais da ordem da destruição do objeto de desejo, o que indica sérios problemas na relação com o sexo oposto, ou “baixa masculinidade”. Porque é baixa a masculinidade, são imaturas as formas de gozo sexual, e são precárias as formas de responsabilidade moral, o alvo sexual vai do “qualquer uma”, do próprio harém ou do vizinho, para uma que guardaria certa "pureza", certa "inocênia", que se quer, justamente, macular, colocar uma nódoa, uma marca, ou uma "apropriação". Porque existe uma diferença muito grande em fantasiar e fazer. Se a fantasia indica fixações neuróticas, o fazer pressupõe distúrbio de caráter, ou psicopatia (já que agora está na moda). Como os distúrbios de caráter, ao contrário do que o “psiquiatra” da novela das oito reitera seguidamente, não são inatos, mas adquiridos - ninguém nasce psicopata, mas torna-se um (ainda que precocemente se vá delineando a personalidade neste sentido) - compreender estas dinâmicas sociais que facilitam o molde destas estruturas de personalidade é crucial para sociedades que queiram, realmente (não apenas no nível do discurso politicamente correto), combater esse incêndio insidioso, recorrente, devastador que atinge as meninas da nossa terra. Por fim, é ainda mais ridículo, para não dizer triste, se vangloriar de “pegar” uma menor de idade como se fosse uma façanha, algo que possa colocar um homem numa situação de vantagem, respeito, valorização, perante seus “coleguinhas”. Seja como for, ficar calado é o mesmo que aceitar esse tipo de coisa, o que não é possível, pois o melhor tratamento, no plano coletivo, para a psicopatia é ainda a repressão social. E este é o meu motivo de trazer à baila tão incômodo, mas necessário assunto. Isto é real, acontece a todo momento e conta com as mais absurdas complicidades. Se sexo é coisa boa e natural, sua prática violenta deve ser tratada, a meu ver, com uma política de intolerância zero (com o agressor), muita discussão e des-obscurecimento. Pais, professores e profissionais de saúde não devem temer tratar esses temas, mas sim criar espaços, onde eles possam emergir, sem culpas, para o plano consciente, dando possibilidades para que se estabeleçam as responsabilidades de cada um no combate a esta cultura alimentadora das várias formas de dominação e opressão, entre as quais se inclui a de gênero, e cujo produto mais ignóbil é o abuso de menor - a pedofilia.
Não falarei da minha reação de quase violência verbal, mas das reflexões que este caso me suscitou e que desejo passar adiante. O abuso sexual de menores é uma praga que ronda os PSFs e demais serviços de saúde de tal forma que os conselhos tutelares não têm dado conta. Isto sem falar nos casos encobertos ou socialmente aceitos de forma “naturalizada” como acontece principalmente com relação ao abuso de meninas muito pobres, que exibam comportamento sedutor, ou não, e (ou) gozem mais liberdade, consentida ou não pelos pais. O que se esconde por detrás da pedofilia, além dos problemas psíquicos pouco abordados como a impotência, a imaturidade sexual, o machismo e a drogadição? Ou, mais precisamente, o que se esconde por trás desta tolerância sexual demonstrada pela nossa comunidade masculina (e também feminina)? Uma grande covardia e baixa masculinidade, com certeza. Mas também uma coisificação do outro humano. Covardia porque se busca seduzir, assediar, alguém que não tem capacidade de julgar o outro como parceiro sexual, não tem capacidade para escolher, e que é irresponsável perante a lei e a sociedade (em menor o assédio sexual é sempre considerado violento e igual a estupro, não importando a reação da criança, se houve consentimento ou não). É covardia justificada na maioria das vezes de forma hipócrita ou cínica (“quem quiser que segure suas filhas” ou “ela queria” ou “ela era safada”, etc). É irresponsabilidade porque o agressor não pensa nas conseqüências deletérias daquele ato para o outro, mas apenas em seu prazer egoísta, no seu gozo estéril e perverso. Não pensa nunca no sofrimento que pode causar a uma menina porque... no fundo... ele odeia as meninas, e seu prazer é mais da ordem da destruição do objeto de desejo, o que indica sérios problemas na relação com o sexo oposto, ou “baixa masculinidade”. Porque é baixa a masculinidade, são imaturas as formas de gozo sexual, e são precárias as formas de responsabilidade moral, o alvo sexual vai do “qualquer uma”, do próprio harém ou do vizinho, para uma que guardaria certa "pureza", certa "inocênia", que se quer, justamente, macular, colocar uma nódoa, uma marca, ou uma "apropriação". Porque existe uma diferença muito grande em fantasiar e fazer. Se a fantasia indica fixações neuróticas, o fazer pressupõe distúrbio de caráter, ou psicopatia (já que agora está na moda). Como os distúrbios de caráter, ao contrário do que o “psiquiatra” da novela das oito reitera seguidamente, não são inatos, mas adquiridos - ninguém nasce psicopata, mas torna-se um (ainda que precocemente se vá delineando a personalidade neste sentido) - compreender estas dinâmicas sociais que facilitam o molde destas estruturas de personalidade é crucial para sociedades que queiram, realmente (não apenas no nível do discurso politicamente correto), combater esse incêndio insidioso, recorrente, devastador que atinge as meninas da nossa terra. Por fim, é ainda mais ridículo, para não dizer triste, se vangloriar de “pegar” uma menor de idade como se fosse uma façanha, algo que possa colocar um homem numa situação de vantagem, respeito, valorização, perante seus “coleguinhas”. Seja como for, ficar calado é o mesmo que aceitar esse tipo de coisa, o que não é possível, pois o melhor tratamento, no plano coletivo, para a psicopatia é ainda a repressão social. E este é o meu motivo de trazer à baila tão incômodo, mas necessário assunto. Isto é real, acontece a todo momento e conta com as mais absurdas complicidades. Se sexo é coisa boa e natural, sua prática violenta deve ser tratada, a meu ver, com uma política de intolerância zero (com o agressor), muita discussão e des-obscurecimento. Pais, professores e profissionais de saúde não devem temer tratar esses temas, mas sim criar espaços, onde eles possam emergir, sem culpas, para o plano consciente, dando possibilidades para que se estabeleçam as responsabilidades de cada um no combate a esta cultura alimentadora das várias formas de dominação e opressão, entre as quais se inclui a de gênero, e cujo produto mais ignóbil é o abuso de menor - a pedofilia.
Pedofilia é antes da puberdade. Antes dos 9 anos de idade.
ResponderExcluirEngano seu. Legalmente, manter qualquer tipo de atividade sexual com menores de 14 anos é SEMPRE pedofilia ou estupro presumido.
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