Quando vemos pela primeira vez uma colher,
ela já nos é,
há muito,
familiar...
Ela nos penetrou boca a dentro
dura, metálica,
a trincar nos dentes.
Ela passeou nas mãos
sujas do gosto
e da saciedade.
Ela saltou no chão,
igualmente duro,
em cambalhotas...
Quando o observador se vê diante de uma colher, ele apenas a re-conhece com o intelecto, aquilo que já foi
saber dos sentidos.
Antes eram, ele e a coisa - das Ding,
um só impulso e movimento - der Trieb.
Agora ela o desdenha, e o desafia, em sua indiferente diferença.
Em sua incerteza: é ou não é?
Mas ele quer que seja.
Ele, no seu nômade desejo,
ainda sim, quer... o retorno
da velha e rebelde colher.
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Esse texto, inspirado em Simone Weil, foi escrito por volta de 2002, retocado hoje, e é uma das produções que mais gosto. Ele sintetiza poesia, psicanálise, filosofia pós-estruturalista e saber prático.
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