sábado, 15 de agosto de 2009

Domingo, pé de cachimbo...

Ar morno que chega tão de leve beijando a fronte. Ainda bem que não mandei tirá-la, aquela árvore daninha, feia, que só de grande começou a dar umas frutinhas vermelhas atraindo os pássaros mais diferentes, desde aquele “quepenininho”, como diria Dani-mirim, gordinho e amarronzado, até o cinza mais grandinho de bico fino, e os grandões mascarados de papo amarelo. Já reparou como os passarinhos são rápidos? Não param quietos. A vida deles é veloz. Da rede os observo a pouco mais de um braço estendido, bicando a fruta ainda verde que não desgruda. Assim vão eles, testando a natureza. Tenho vontade de ouvir música, mas sou vencida pela delícia dos sons de tarde da minha janela. Espero já há algum tempo ver repetir-se aquele chiado típico de fazenda, lembrando vagamente o canto da cigarra, que me faz vagar na memória dos meus nove anos. Por que me sinto entranhada nesse período dos primeiros meses que cheguei a Dias D’Ávila? Período da casa alugada em frente ao trilho do trem? Da menina que morava do outro lado e tinha uma boneca de papelão com imã, onde se podiam grudar roupinhas? Do passeio na carroça puxada a trator nos levando até Amado Bahia, onde ainda descansava, semi-coberto pelo matagal, o antigo Matadouro, restos mortais da enorme fazenda que um dia havia sido do meu bisavô, e que entrava, lenta e justamente, na posse dos habitantes da terra? Restos de uma riqueza devoluta (Mata d’ouro). Talvez ficasse eu-menina, impressionada com a história, contada pelos garotos locais, da grande jibóia de mais 10 metros que habitava as ruínas. Foi nesse mesmo passeio que vi de perto, pela primeira vez, uma roseira. Uma roseira num jardim cimentado. Tão estranho, este jardim, quanto um certo silêncio, ou clima, que impregnou minha alma desde então. Um silêncio que vale ouro e mata o tempo. Sintetiza o ser e ente marginal que sou, a fugir das cobranças, das prisões, da serpente, que engole gente e aprisiona os dias nas entranhas. Eu, velha jibóia desassombrada, sigo o estalido das folhas secas enfeitiçada pelos gritinhos assanhados dos passarinhos. Estes sons me chamam, a menina e as rosas pálidas me chamam, mas eu só quero marejar calma na minha rede de sonhos... fugir de mim. Delicioso Domingo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário