Ela me perguntou: “eu vou morrer logo?”. Tratava-se há uns dois anos de depressão. Há cerca de três meses perdera sua filha de 14 anos por leucemia após longo calvário. Aos trinta e cinco anos, lhe restara um filho de 6, com paralisia cerebral. A dor a levou a contrair pneumonia. Os exames, entretanto, acusaram a verdadeira causa: Aids. Provavelmente o ex-marido, um bruto que já lhe transmitira várias doença venéreas, a tinha contaminado. Agora vivia angustiada pela idéia de que ela podia ter passado a doença para a filha, sem saber, o que justificaria sua leucemia. Eu me saí com meu velho truque: “Claro que vai morrer. Todos vamos morrer, um dia. Mas quando, ninguém sabe”.
“O tempo é a preocupação mais profunda e mais trágica do ser humano; podemos até dizer a única preocupação trágica. Todas as tragédias que podemos imaginar resumem-se numa mesma e única tragédia: o escoamento do tempo. O tempo também é a fonte de todas as servidões” (Simone Weil, 1991).
A dor dilata o tempo em sua infame onipresença. Dizem que a natureza é sábia. Que a dor é um aviso e está a serviço da sobrevivência, que aprendemos com a dor, blá, blá, blá... Não acredito em nada disso. A dor é um erro evolucionário. Uma saída de mau gosto. A verdadeira tragédia, me desculpe Simone Weil. A dor que eu senti ao contemplar aquela dor se congelou no tempo. Se somou a outras dores, escorreu ácida esburacando o peito. Deslizou anos a fio por um caminho subterrâneo até aflorar aqui e agora em uma triste flor de inverno.
“O tempo é a preocupação mais profunda e mais trágica do ser humano; podemos até dizer a única preocupação trágica. Todas as tragédias que podemos imaginar resumem-se numa mesma e única tragédia: o escoamento do tempo. O tempo também é a fonte de todas as servidões” (Simone Weil, 1991).
A dor dilata o tempo em sua infame onipresença. Dizem que a natureza é sábia. Que a dor é um aviso e está a serviço da sobrevivência, que aprendemos com a dor, blá, blá, blá... Não acredito em nada disso. A dor é um erro evolucionário. Uma saída de mau gosto. A verdadeira tragédia, me desculpe Simone Weil. A dor que eu senti ao contemplar aquela dor se congelou no tempo. Se somou a outras dores, escorreu ácida esburacando o peito. Deslizou anos a fio por um caminho subterrâneo até aflorar aqui e agora em uma triste flor de inverno.
Bastante interessante. Que somos nós, senão grandes somatizadores? De dor, de sentimento, de tempo, de tudo?
ResponderExcluirHistórias como esta existem aos montes. No entanto, poucos são os que as percebem de uma forma tão crítica e poética, provocando tão bonita reflexão.
Beijos